terça-feira, 28 de março de 2023

 Sindicato pede que frentistas denunciem violência, inclusive assédio sexual

     Em entrevista ao jornal “O Combate”, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo de Juiz de Fora e Região – SINTRAPOSTO-MG, Paulo Guizellini, manifestou espanto, revolta e indignação diante dos dados divulgados durante o “Fórum Violência Contra a Mulher: múltiplos olhares, desafios e perspectivas”, mostrando que houve em Juiz de Fora 2.299 notificações de violência nos últimos cinco anos, sendo que 75% das vítimas são mulheres e 24% homens.

     O evento do Mês da Mulher, promovido pela Prefeitura de Juiz de Fora no Teatro Paschoal Carlos Magno, no dia 22 de março, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, transcorrido no dia 8 de março, reuniu instituições e setores envolvidos no combate à violência contra as mulheres.

     Os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) são do período de 2017 a 2021 e detalham a situação da violência contra a mulher em Juiz de Fora. Segundo a coordenadora do estudo, Janaína Sara Lawall, os dados coletados pelo Sinan “representam um recorde significativo da violência contra as mulheres em Juiz de Fora e colaboram para a compreensão desse fenômeno, que é amplo e complexo”.

     Guizellini disse que “esses dados são assustadores, alarmantes e preocupantes porque mostram que muitas mulheres têm sofrido amargamente os horrores da violência em nossa Cidade”.

     Perguntado se a violência contra a mulher já chegou à categoria profissional representada pelo SINTRAPOSTO-MG, Guizellini afirmou que “existem muitas mulheres trabalhando em postos de combustíveis em Juiz de Fora, mas o Sindicato não tem conhecimento de registros de violências contra frentistas em Juiz de Fora”. O sindicalista ressalta que “às vezes, até chega ao Sindicato alguma denúncia anônima por telefone falando de assédio, mas quando a gente vai apurar a denúncia para poder tomar as medidas cabíveis, a gente não consegue puxar o fio da meada, ou seja, a gente não consegue mais informações referentes à denúncia recebida. Acho que é porque muitas pessoas têm medo de sofrer represálias”.

Gerente de posto pega mais de 10 anos por estupro e assédio sexual

     Guizellini lembra que “a categoria profissional representada pelo SINTRAPOSTO-MG já foi abalada por uma terrível série de violência sexual praticada por um gerente de um posto de gasolina localizado em São João del-Rei, cidade que faz parte da base territorial do SINTRAPOSTO-MG, sendo que o acusado foi condenado por estupro e por ocorrências de assédio sexual contra frentistas que trabalhavam no posto dirigido pelo estuprador”.

     Guizellini se refere à decisão da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que em 2019 condenou o gerente de um posto de gasolina situado em São João del-Rei a nove anos de reclusão em regime fechado e a um ano, dois meses e 12 dias de detenção no regime semiaberto, pelo crime de estupro e por ocorrências de assédio sexual. Ele tirava proveito do cargo para abusar de funcionárias do local onde trabalhava.

     Na ocasião, uma frentista apresentou queixa contra o superior hierárquico, acusando-o de estupro. Segundo a mulher, em 23 de setembro de 2018, ela foi atraída por ele até um local isolado nas dependências da empresa, onde, puxando seus cabelos com força, ele praticou contra a vítima ato diverso da conjunção carnal.

     A subordinada contou que, depois do relato dela, várias outras funcionárias do local relataram ter sido vítimas do gerente, afirmando que o medo de serem dispensadas do emprego as impedia de relatar os abusos. Elas também temiam outras retaliações, devido ao relacionamento dele com pessoas de alta periculosidade e seu envolvimento com drogas.

     Guizellini disse esperar “que essa justa e correta decisão da Justiça sirva de exemplo e tenha um valor pedagógico, contribuindo para incentivar outras trabalhadoras e outros trabalhadores a denunciarem atos criminosos contra frentistas em qualquer posto de combustíveis, a fim de que os crimes sejam punidos e não mais aconteçam”.

     Segundo Guizellini, “o dono de posto que tiver conhecimento de atos criminosos ocorrendo dentro do posto dele também será denunciado pelo Sindicato”.

     Após repudiar veementemente os atos criminosos do gerente estuprador que foi preso, Guizellini se solidarizou com as vítimas e ressaltou que o Sindicato está à disposição de todas as frentistas e de outras pessoas que trabalham em postos de combustíveis e estejam sofrendo abusos. “Os trabalhadores ou as trabalhadoras, sendo integrantes da categoria profissional representada pelo SINTRAPOSTO-MG, podem e devem telefonar para o ‘disque-denúncia’ do SINTRAPOSTO-MG (32-3216-3181 e 3213-7565) ou enviar e-mail ao Sindicato (sintrapostomg@gmail.com) ou mensagem pelo WhatsApp (9-9817-5252) ou se dirigir à sede do Sindicato, na Rua Halfeld, nº 414, sala 609, Centro de Juiz de Fora, para a tomada de providências cabíveis, objetivando, inclusive, o ajuizamento de ação trabalhista pelo Departamento Jurídico da entidade, pois é o cúmulo do absurdo verificar que essas trabalhadoras sofreram esses abusos criminosos dentro da empresa, sendo desrespeitadas e violentadas covardemente” – frisou o sindicalista.

     Guizellini disse esperar que “os trabalhadores e as trabalhadoras denunciem mesmo qualquer tipo de abuso ou falta de respeito que estiver ocorrendo em posto de combustíveis para que possamos tomar as medidas cabíveis em prol das vítimas de atos criminosos”.

     Segundo o sindicalista, “todo ato criminoso cometido contra qualquer funcionária ou funcionário de posto de combustíveis deve ser denunciado ao Sindicato, ao Ministério Público e à Polícia, para que sejam tomadas todas as medidas cabíveis”.

     Para Guizellini, “muitos trabalhadores e muitas trabalhadoras, na sua humildade e simplicidade, têm medo de denunciar e perder o emprego por causa da denúncia”. Mas o sindicalista acha que “é melhor (ou menos pior) perder o emprego ou trabalho e fazer a denúncia contra os bandidos do que ficar se sujeitando a desrespeito ou abuso criminoso, seja lá qual for, praticado por bandidos”. 

     Guizellini afirma que “os trabalhadores e as trabalhadoras podem e devem denunciar os fatos criminosos, e é importante que as denúncias não sejam só anônimas e relatem bem o ocorrido para que a sociedade tome conhecimento de atos criminosos que desgraçadamente estejam ocorrendo e para que as autoridades possam punir severamente os culpados”.


FONTE : JORNAL O COMBATE